“Houve também uma discussão entre eles, sobre qual seria o maior. Jesus disse: “Os reis das nações as dominam, e os que as exploram são chamados “os maiorais”. Quanto a vocês, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o menor, e o que governa como aquele que serve”. (Lucas 22:24)
Que Reino é o Seu?
Os últimos meses foram marcados por uma acirrada disputa eleitoral, e esse assunto esteve presente em todas as rodas de conversas, sendo debatido calorosamente entre colegas de trabalho, amigos ou mesmo familiares. Isso não é diferente em meio à Igreja – e nem deve ser.
O resultado final apontou para a reeleição da Presidente (ou “Presidenta”, como ela própria prefere) – o que, embora possa ser avaliado como uma vitória importante do partido atualmente dominante – ao mesmo tempo revela um descontentamento da maioria da população quanto ao governo.
O resultado mostra isso, porque a pequena margem de distância da candidata vencedora para o segundo colocado (cerca de três milhões de votos) é, em muito, superada pela quantidade de votos brancos (1.921.819) e nulos (5.219.787), sem falar da enorme taxa de abstenção – pessoas que deixaram de comparecer às urnas – a qual chegou a 21,10% da população. Mais do que uma insatisfação com o governo, esse número alto de pessoas que deixaram de participar do processo eleitoral denuncia uma clara descrença – ou falta de esperança – de grande parte do povo na política.
País dividido
Já em seu primeiro discurso após a reeleição, a Presidenta reconheceu que terá um grande desafio pela frente: unir um país que se mostra dividido, talvez como poucas vezes se viu na história, – o que, também, é um claro resultado do tom agressivo que a campanha eleitoral ganhou, e que chegou a extremos de intolerância e hostilidade, sobretudo nas chamadas “redes sociais”.
De que Lado Ficar?
Buscando ser fieis ao nosso objetivo de não fugir dos assuntos importantes para a vida das pessoas e com o cuidado de não manipular opiniões, trazemos uma reflexão sobre o papel do governo na vida do Povo de Deus, e como devemos encarar a nossa participação política na sociedade.
O Povo de Deus – pela primeira vez – pede um Rei
O texto que está no Livro de Samuel, Capítulo 8, nos traz uma interessante passagem, em que, pela primeira vez na história, o Povo de Israel – a nação escolhida de Deus – pede a Deus um rei. Até aquela época, em que o povo havia acabado de tomar posse da Terra Prometida, não havia existido rei em Israel, apenas homens que eram escolhidos entre os mais sábios e conhecedores das leis, para exercerem o papel de juízes. O próprio Samuel – um profeta de Deus – era, também, um juiz.
Porém, o povo não estava satisfeito com esse “sistema”, e – reunido – implorou a Samuel que Deus lhes concedesse um rei “como todas as outras nações faziam”.
O texto nos relata que Deus não ficou contente com esse pedido, chegando a declarar que – ao exigir um rei – os israelitas estavam, na verdade, rejeitando o Reino de Deus (v. 7).
O interessante, aqui, é que- mesmo contrariado – Deus concede aos israelitas o rei desejado. Deus, porém, avisa o povo que o rei comeria do melhor das riquezas deles, e que ele envolveria o povo em guerras, nas quais os filhos do povo (e não do rei) morreriam. Que tudo do bom e do melhor seria para a realeza, e que ao povo sobrariam “as batatas”. E que, vendo tudo isso, um dia o próprio povo (re)clamaria a Deus pelo rei que eles mesmo haviam pedido – mas Deus não ouviria este clamor (afinal, eles haviam feito a escolha).
Desde então, vemos na história que os governantes tendem se desviar da busca do bem comum, para atender a seus próprios interesses, e que cabe ao povo reclamar do governo – mas isso nada tem a ver com Deus. Ao reclamar do governo, o povo – na verdade – reclama de si mesmo.
O texto de Samuel ainda nos traz um princípio muito valioso: “Se vocês temerem a Deus e fizerem o que é certo, o governo será bom e tudo irá bem. Porém, se não fizerem o bem, a mão do Senhor pesará contra a nação” (Samuel 12-12).
Como dizem, cada povo tem o governo que merece…
Autoridade: Benção ou Maldição?
Deus declara de todas as formas que a escolha do povo era uma escolha ruim, e que o desejo por ter um “rei” acabaria por se tornar uma grande des-graça para aquela nação. Apesar de esta não ser a situação desejada por Deus, vemos, um pouco mais adiante, que, ao apontar o rei ungido – Saul – Deus diz a Samuel: “Unge ao homem (Saul) como chefe do meu povo, e ele salvará meu povo da mão dos filisteus, porque vi o meu povo, e seu clamor chegou até mim” (Samuel 9, v. 16).
É interessante observar que, o que o próprio Deus diz ser um grande mal no versículo 20 do capítulo 12 – isto é, o pedido do povo por um rei – aparece como resposta de oração e promessas de bem e salvação no versículo que lemos acima (Samuel 9, v. 16).
Vemos que, às vezes, Deus permite ao homem andar pelo caminho que ele escolhe, mas – mesmo assim – não o entrega à própria sorte. Mesmo que determinada situação não seja o “ideal” de Deus – mas apenas a “permissão” de Deus – Deus jamais desampara o homem.
Vemos que Deus repreende, inicialmente, o povo por desejar um rei “como o das outras nações”. Porém, o texto também é bastante duro quanto a alguns homens que fizeram pouco caso do rei a quem Deus havia eleito: Saul. Vemos que a Palavra de Deus chama estes homens de “vagabundos” (Samuel 10:27).
Um governo humano “imperfeito” permitido por Deus pode não ser a vontade original de Deus, mas – ainda assim – para o homem, é muito melhor do que um des-governo.
Não existe governo perfeito, mas o homem deve temer e honrar a toda a autoridade, pois toda autoridade só existe sob a permissão de Deus, como Jesus disse a Pilatos: “Você não tem nenhuma autoridade sobre mim que não tenha sido concedida pelo Meu pai que está no céu”.
O Povo de Deus e o Voto
Diferentemente do Israel bíblico, vivemos em uma democracia – o que significa que temos o poder de escolher nossos representantes. O povo de Deus pode – e deve – participar desse processo. Há um princípio no Novo Testamento de que, se existe a oportunidade para exercer uma liberdade, ela deve ser exercida (“se podes, torna-te livre”). Ao votar, devemos fazer isso com consciência, lucidez e honestidade.
Nenhuma opção política deve ser condenada – porém, os princípios que expusemos acima recomendam, claramente, contra uma escolha “fanática” ou iludida por qualquer que seja o partido. Deve-se entender que, qualquer que seja o governo, ele jamais será perfeito, pois – por definição – é um governo do homem sobre o homem, e não o Reino de Deus.
A escolha em uma eleição – do ponto de vista de Deus – é sempre uma escolha entre aquilo que, na verdade, é o “menos pior”. Nenhum “líder” ou pastor tem o direito de exigir de você, em nome de Deus, o voto neste ou naquele candidato.
A Bíblia ensina que o Reino de Deus é construído “não por poder ou força, mas pelo Espírito de Deus”.
Nessas eleições, vemos que – lamentavelmente – muitos se excederam em sua forma de manifestar suas opiniões, chegando – até mesmo – a descambar para declarações racistas ou, no mínimo, preconceituosas, especialmente, contra os nordestinos e homossexuais. Essas manifestações são nojentas e repugnantes, e – para alguém que se diz “cristão” – são um odioso pecado, que deve ser confessado e tratado.
“Meu Reino não é Desse Mundo”
O principal pecado do povo de Israel, na verdade, não foi pedir um líder, mas sim, o desejo de se tornar “como as outras nações”. O plano original de Deus era que Israel fosse diferente das outras nações – e não igual.
Da mesma forma, na citação que aparece no começo dessa página, Jesus nos ensina que o Seu Reino era diferente dos reinos que o mundo havia conhecido. Um Reino em que os maiores são aqueles que servem e protegem os mais fracos. É um Reino que começa “de dentro pra fora”, e não o contrário.
Se a Igreja se deixa contaminar pela busca pelo poder “terreno”, e por um discurso de ódio e preconceito, torna-se semelhante aos reinos deste mundo.
O Reino de Deus começa em nós, não no governo. Busquem o Reino de Deus em seus corações, para que venham tempos de paz e refrigério sobre esta nação!