“Pois Abraão virá a ser uma grande e poderosa nação, e serão benditas por meio dele todas as nações da terra. Porque o conheci, e sei que ordenará a seus filhos e à sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Eterno, para fazer caridade e justiça (Gênesis 18:18)
Nas empresas, corporações e instituições, ninguém é escolhido para uma função importante por mero acaso. A decisão pela escolha de um líder envolve, no mínimo, conhecer profundamente o candidato, suas habilidades e virtudes pessoais e profissionais, sua capacidade de fazer julgamentos e tomar decisões justas e boas na visão daquela determinada instituição. Assim é como funciona nas instituições humanas.
Mas, e quando Deus escolhe alguém para uma missão, o que será que Ele vê?
Nosso último texto, baseado no capítulo 17 de Gênesis, conta sobre quando Deus escolheu Abraão para firmar com ele uma aliança, e também mostra que a fé sincera era a condição essencial desta aliança.
Mas a sinceridade, sozinha, não basta.
No capítulo seguinte (18), Deus anuncia o “porquê” de sua escolha. Por conhecer Abraão, Deus sabia que ele estava qualificado para atingir o seu propósito: ensinar um povo para guardar o caminho do Eterno, praticando justiça e caridade na Terra (18:18).
Justiça e Caridade na Terra fazem parte da verdadeira essência da missão confiada aos filhos de Abraão.
Tanto que, nos trechos seguintes, Deus parece mostrar, ao longo das várias experiências e provações pelas quais passou Abraão, todas aquelas virtudes e qualidades que deviam se tornar em exemplos para a sua descendência:
Caridade
No início do capítulo 18, o próprio Deus dá um grande exemplo, que passa por vezes despercebido. Abraão já era um homem de 99 anos quando foi submetido à circuncisão – que era, como se pode imaginar, uma cirurgia dolorosa naquela época. O próprio Deus visita a Abraão em seu momento de fraqueza, nos ensinando, assim, que visitar os doentes e aqueles que estão fracos deveria ser uma marca a acompanhar, para sempre, os filhos de Abraão.
Hospitalidade
Mais: quando Abraão recebe a visita de Deus, em forma humana, ele sequer podia imaginar que não era um simples viajante cansado do deserto que ali estava. Mesmo ainda fraco, Abraão se apressa para acolher aquele misterioso “homem” e seus companheiros (que na verdade, eram anjos) com generosidade e hospitalidade.
Vemos que Abraão oferece o melhor que ele poderia dar: não apenas provê aqueles homens desconhecidos com água, como também limpa os seus pés, oferece-lhes comida e abre as portas de sua casa para que eles pudessem repousar. Repare que a sinceridade de Abraão não ficou somente “em seu coração”, ou nas palavras de um belo discurso. Ela se refletiu em atos de bondade reais em favor daquelas pessoas.
Do mesmo modo, o Novo Testamento nos ensina: “Não vos esqueceis da hospitalidade, porque graças a ela, alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hebreus 13:2).
Misericórdia e Oração
Depois disso, vemos que Abraão recebe uma revelação de que duas cidades vizinhas, Sodoma e Gomorra, iriam receber um castigo de Deus, pois o pecado dessas cidades havia se tornado muito grande.
As pessoas normalmente associam o pecado de Sodoma e Gomorra à imoralidade sexual. Porém, a própria Bíblia nos mostra que os grandes males daquele povo eram, na verdade, o egoísmo , o materialismo e a falta de compaixão com o próximo: “Eis aqui que essa foi a maldade de Sodoma… fartura de pão e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas, e não estendeu a mão ao aflito e ao necessitado” (Ezequiel 16:49).
Uma sociedade rica e, ao mesmo tempo, individualista, se torna, rapidamente, corrompida.
Mesmo diante de um povo tão mau, Abraão se pôs a orar e interceder em favor daquelas cidades, a fim de que o castigo de Deus não viesse sobre elas (18:24).
A atitude de Abrãao mostra a misericórdia do seu ser, a capacidade que ele tinha de julgar o próximo com piedade e condescendência. Ele não teve um coração mesquinho e cheio de julgamento, mas sim, de amor.
Da mesma forma, os filhos de Abraão devem (ao menos, deveriam…) dobrar seus joelhos para orar por todos que nos cercam, a fim de que a salvação de Deus possa alcançar a todas as pessoas (mesmo aquelas que não consideramos “boas”).
Humildade
Vemos, também, que, ao orar a Deus em favor de Sodoma e Gomorra, Abraão mostra uma grande ousadia e intimidade com o Pai, pois ele insistiu tanto com Deus para que aquelas cidades fossem salvas, que chegou a ficar com medo de irritar Deus (Gênesis 18:32).
Porém, ao mesmo tempo, ele também revela a sua grande humildade, ao reconhecer, diante de Deus, toda a sua limitação diante da sabedoria do Eterno para realizar o julgamento: “comecei a falar ao Senhor, (porém) eu sou somente pó e cinza” (18:27).
Bondade
Outro exemplo grandioso de bondade de Abraão passa, geralmente, despercebido por todos. Abraão havia recebido uma promessa de um descendente, e, por esse sonho, havia esperado, praticamente, a sua vida toda (e ele já tinha 99 anos…).
Mesmo assim, vemos, no capítulo 20:12, ele orando para que Deus trouxesse filhos ao rei Abimeleque e sua esposa, que também era estéril.
Abraão poderia se sentir frustrado e amargurado por não ter alcançado, ao menos até aquele momento, o sonho de sua vida toda. Porém, no lugar de amargura, vemos o coração bondoso que ele tinha, desejando, para o próximo, um bem que ele mesmo queria para si.
Devoção e Confiança
Finalmente, temos o exemplo mais drástico da devoção de Abraão, e, por isso, o mais difícil de ser compreendido e seguido: o seu momento no Monte Moriah, em que Deus lhe ordenou que ele sacrificasse o próprio filho, Isaque. A intenção escondida de Deus, porém, não era ter um sacrifício humano: no último minuto, um anjo apareceu para livrar Isaque, trazendo um cordeiro para morrer em seu lugar.
Vemos, nessa passagem, a extrema devoção a que chegou a fé de Abraão, a ponto de não negar a Deus o fruto de uma espera de uma vida toda, um ser tão amado e venerado quanto um filho.
Da mesma forma, Deus não negou seu Filho Único, Jesus – o cordeiro – entregando-o para morrer, a fim de que houvesse salvação, não apenas para os descendentes de Abraão, como, também, para toda a humanidade.
Abraão não hesitou em obedecer a Deus em uma escolha tão difícil, que somente a loucura ou a fé poderia explicar. Ele confiava em Deus, e sabia que o objeto da promessa não é maior do que Aquele que prometeu.
Do mesmo modo, um grande desafio surge para nós quando temos que colocar Deus acima das bênçãos que desejamos e perseguimos. Esse é o sacrifício que Deus deseja: o sacrifício do espírito!
Conclusão
Em tudo, vemos, em Abraão, um homem que se esforçava para construir a paz com todos os que o cercavam. Um homem em cujos pés estava a mensagem do amor de Deus por toda a humanidade. Um homem que se entregou a Deus, sem ressalvas ou “poréns”.
Um homem que se tornou, assim, uma benção na Terra!
Esse é o nosso pai. Essa é a nossa herança.
Que você possa tomar parte dela também!