GUERRA (IN) VISÍVEL – NOSSOS DILEMAS
Jó 1: 6- 12 – 2: 1 – 10
O sofrimento humano sempre foi abordado como tema central em diversas reflexões. A história de Jó também serve para refletirmos o sofrimento humano.
A filosofia de vários modos e em várias épocas tentou explicar e compreender o sofrimento humano. Vários autores no campo da psicologia; como Freud, Jean Piaget, Franco Imoda abordaram esta grande questão.
Foi Freud, pai da psicanálise que propôs o fim do mal-estar, no entanto o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, fomentado pela violência.
Por fim, o ser humano em geral experimenta uma sensação eterna de incompletude. Sempre lhe faltará algo e a insatisfação corrói o coração e a alma.
Em meio à complexidade da vida, o livro de Jó nos apresenta o contexto do sofrimento humano, mas, principalmente nos ajuda a entender o lugar que Deus ocupa em nossa experiência espiritual com Ele.
Esta é a abordagem que pretendemos hoje nesta guerra (in) visível. Abordar nossos dilemas da vida em relação a nossa vida com Deus.
Os dois primeiros capítulos deste livro definem o campo de batalha e os personagens deste conflito.
Temos Deus de um lado que nos é apresentado como Senhor e soberano sobre tudo e todos, inclusive no tocando aos céus e a terra.
Do outro lado temos o próprio satanás, que se apresenta diante de Deus junto com os “filhos de Deus”. Ele é apresentado como um acusador dos nossos irmãos.
Satanás levanta suspeitas quanto às motivações que levam Jó a ser tão íntegro e reto diante de Deus. “Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da família dele e de tudo o que ele possui? Tu mesmo tens abençoado tudo o que ele faz, de modo que os seus rebanhos estão espalhados por toda a terra” (10).
A dúvida que é lançada por satanás não é com relação à integridade de Jó, mas sim sobre o que leva o homem a honrar e glorificar a Deus. Será que é por causa das suas bênçãos?
Pode o ser humano adorar e servir a Deus em troca de nada?
Satanás desconfia que não. Para ele os homens se aproximam de Deus por causa das vantagens que Deus pode proporcionar. Ou seja, suas bênçãos.
Qual é a aposta que satanás faz então? “Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face”. (11).
A tese de satanás é que a retidão e a integridade de Jó têm um preço: Enquanto Jó é abençoado ele continua servindo a Deus, retira as bênçãos dele e ele vai negar a Deus.
Por outro lado, Deus aposta no poder do amor, do afeto, do relacionamento sem interesse, incondicional.
O grupo Titãs gravou uma música que ilustra isto: “Porque sei que é amor, eu não peço nada em troca, porque sei que é amor eu não peço nenhuma prova”.
Quando satanás toca em tudo o que Jó possui, seus filhos e filhas, bens e animais e as notícias chegam aos seus ouvidos ele diz: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”. (21).
Satanás perde a primeira aposta. Jó continua amando e servindo a Deus por amor.
No entanto satanás insiste e continua desafiando Deus. “Pele por pele! Um homem dará tudo o que tem por sua vida. Estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face”. (2:4, 5).
Satanás sabia que Jó possuía saúde e poderia reconquistar tudo novamente, então lhe toca em seu corpo e lhe fere com doenças terríveis.
Seria melhor amaldiçoar Deus e morrer conforme disse a sua esposa?
Jó responde: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal? Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios”. (2: 10).
Satanás queria descobrir se o que existe no coração do homem são apenas interesses egoístas e mesquinhos.
Eis aqui algumas indagações: Por que você está aqui? Por que você continua servindo a Deus? De quem é o seu coração?
A resposta a estas perguntas dará o diagnostico de quem você verdadeiramente é!
O Psiquiatra Joel Briman da faculdade Federal do RJ diz que as pessoas padecem por uma falta de identidade.
Pessoas sofrem por estarem perdidas em sua falta de identidade. Jó sabia exatamente quem ele era.
Outro psiquiatra Mário Pablo Fuks, do Instituto Sedes Sapientiae diz que nossa identidade hoje é formada em torno das modificações sociais e políticas.
Ele diz: “A sociedade de consumo controla o individuo. Os shoppings são templos da nova religião que se impôs ao mundo moderno e nesse lugar não há espaço para o sofrimento”.
O maior dilema da nossa vida é a perspectiva da nossa identidade. E sofremos por conta disto.
E a questão da nossa identidade não é saber “quem sou?” e sim “de quem sou? ”.
O grande dilema da vida de Jó não é o sofrimento, mas sim de quem ele é!
Vamos ver outra cena: No caso a tentação de Jesus no deserto quando satanás se aproxima para tentá-lo.
Jesus acabara de ser batizado no rio Jordão e ouviu a voz do Espírito Santo dizendo: “Este é o meu filho amado, de quem me agrado”. Mt. 3: 17.
No deserto o grande desafio de Jesus não foi: “Se és filho de Deus, manda”… Transformar pedra em pão… Dar ordem aos anjos para segurá-lo… Ou ainda possuir tudo.
A preocupação de satanás não está em saber a respeito do poder de Jesus, mas sim a respeito da sua identidade; Quem tu és! Você verdadeiramente é filho de Deus?
Se é, então faz… Se é, então manda… Se é, então transforma… Se é, então prova quem tu és!
Jesus sabia quem ele era. Qual era a sua identidade. Jesus não precisou provar nada. Apenas sabia quem Ele era e de quem Ele era. Então o Diabo o deixou, e os anjos vieram e o serviram.
Na guerra (in) visível que enfrentamos, está o nosso grande dilema: Não é quem sou, mas de quem sou.
Enquanto satanás se vale da violência, do sofrimento e da dor e da destruição, Deus se vale da aliança feita pelo amor. Sim, ele nos amou de tal maneira.
Em nossos dias, o processo da formação de identidade diz que cabe a nós descobrirmos quem somos e que cabe a nós identificar o nosso “eu” verdadeiro.
Mas percebam como a proposta do evangelho é libertadora: Nossa identidade não é conquistada, mas recebida.
Não é algo que se possa alcançar por padrões de comportamento, mas sim pelo que Deus nos vê em Cristo Jesus.
Não é por esforços pessoais, mas pela fé.
Não é por causa nem ao menos de quem somos, mas sim pelo que Jesus fez por nós.
Satanás queria mostrar para Deus que ninguém pode amá-lo por nada e que ninguém busca simplesmente a Deus por quem ele é.
Jó não falhou, demonstrando assim que podemos sim servir a Deus apenas por quem Ele é.
Satanás ainda tentou seu último golpe ali na cruz.
Podemos imaginar Jesus ali, no calvário, pendurado a uma cruz e satanás dizendo: “Onde estão os seus amigos”?… Onde estão os teus discípulos?… Onde estão aqueles que foram curados?… Onde está a tua família?… Até Deus te abandonou?
Amaldiçoa a Deus e morre!
Mas Jesus diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”
Com estas palavras satanás percebeu que a guerra foi vencida… Jesus continua amando e obedecendo ao Pai, por nada.
E Nada neste mundo pode nos separar o amor de Deus por nós que está em Cristo Jesus.
Satanás continua com o seu papel de acusador.
Nosso papel é subir ao calvário e dizer tudo é teu, toma a minha vida, toma o meu espírito, eu sou teu Senhor.
Somente assim, nossas guerras e nossos dilemas serão dissipados.
Quando a entrega do “eu” é verdadeira, voluntária e sem interesse.