Em resposta à pergunta: “De Quem Sou Eu”? o ser humano responde: “Sou minha memória e meus sonhos; sou minha história e minha esperança. Tanto o passado quanto o futuro vivem no presente e informam minha identidade interior. Sou a soma das minhas memórias do passado e do futuro. Eles dão à minha vida seu semblante, caráter e forma únicos”.
(Gabriel Marcel)
No início de nossas vidas, nenhum de nós possui identidade.
Somos gerados em um outro ser – a nossa “mãe” – dentro da qual vivemos, por cerca de nove meses. É como se estivéssemos em um paraíso, onde encontramos alimento, vida e existimos num estado de plena paz.
Então, de repente, somos “expulsos” daquele “Jardim do Éden”, e – não por acaso – nossa primeira reação é o choro, separados que nos sentimos daquele primeiro estado de harmonia e plenitude,
Uma vez separados fisicamente da nossa “mãe” natural, somos levados – pela nossa livre capacidade de pensar – a buscar sentido desde os nossos primeiros “encontros” com o mundo.
É como se algo nos impelisse a buscar aquele mesmo sentimento de plenitude e segurança que experimentamos antes do nosso nascimento.
Mas o mundo aqui fora está longe de ser fácil. É caído, cheio de ambiguidades e contradições.
Até mesmo no nosso primeiro habitat natural – a nossa família – encontramos hostilidade, frustrações, desilusões, e – frequentemente – até alguns traumas, pequenos ou grandes.
E o mesmo vai acontecendo no decorrer da nossa vida, em que, pelas repetidas experiências, vamos sendo treinados a nos “proteger”. A “desconfiar”, a “barganhar” a fazer “política” nos nossos relacionamentos, a “manipular”.
Aprendemos a fazer escolhas – de acordo com aquilo que convém à auto-imagem que queremos construir.
Nesse processo, é que vamos, cada vez mais, nos “moldando” como seres autônomos, separados, independentes.
Vamos, então, modelando a nossa identidade – o elo que, ao mesmo tempo, nos separa e nos mantém unidos ao mundo.
Enxergamos os significados que vão moldando a nossa identidade como se fossem “eternos” e “imutáveis”, sem nos dar conta que eles, na verdade – como nós mesmos – são passageiros, relativos.
A vida, sempre imprevisível, acaba desafiando as nossas maiores certezas.
De forma que – como não poderia ser diferente – a nossa própria identidade está calcada naquilo que é relativo, temporário.
“O passado não é mais, o futuro ainda não é, e o presente é um piscar de olhos”.
Como poderia, então, o homem ter uma “âncora” no tempo? Algo que pudesse fazer com que todos os traços da nossa identidade não fossem varridos pra sempre?
É só em Deus que isso pode acontecer. É só Ele que pode atribuir algo de eterno à minha história – passado, presente e futuro.
É só Ele que pode dar o sentimento de completude que a minha alma busca naturalmente, instintivamente.
Jesus, mais do que ninguém, deixou essa mensagem, ao ensinar o maior e mais profundo nome de Deus: PAI.
Em Jesus, somos tornados filhos de Deus – e isso marca profundamente nossa identidade.
Se somos nossa história e nossa esperança – como afirma a citação do início desta página – em Jesus, temos a chance de uma NOVA história e de uma NOVA esperança.
Quem é filho de Deus sabe de onde vem e para onde vai.
Quem é filho de Deus tem uma dignidade diferente, sabe bem que é lá, no Pai, que estão as raízes mais profundas do ser, e não nas coisas passageiras desse mundo.
Quem é filho de Deus constrói a “casa” da sua identidade na rocha das certezas eternas, e esta “casa” não desaba com as tempestades da vida – as quais vêm para todos, quando mundo se espera.
O mundo está precisando de gente que é de verdade, e não só da cara pra fora. Pois, como diz o Salmista, “Ele ama a verdade no íntimo do ser” (Salmos 51:6).
Busquemos, pois, o presente da identidade.