Forest Gump – O Contador de Histórias (1994)- é, com certeza, um dos filmes de maior sucesso em todos os tempos. O filme narra a história da vida de Forest, um garoto que possui uma deficiência em suas pernas e uma séria limitação de inteligência, mas que, como por um milagre, acaba alcançando vitórias em tudo aquilo quanto faz.
Ele vai à Universidade graças ao futebol americano, e a uma até então desconhecida velocidade descomunal na corrida, vira herói na guerra do Vietnã, campeão de tênis de mesa, um empresário de sucesso, um corredor que inspirou uma multidão de seguidores – nunca se esquecendo do amor e dos simples, porém valiosos, conselhos de sua mãe, que o criara sozinha e com grandes dificuldades.
Talvez a razão pela qual o filme é tão fascinante – e por isso seu sucesso – é que ele nos mostra como, a despeito de todos os diagnósticos e sentenças contrárias dos outros, a pureza de coração de Forest, e sua inabalável confiança no amor e nas palavras de sua mãe, fizeram com que o destino fosse soprando sua vida para lugares que ele jamais teria sonhado, como uma pluma ao vento.
Em uma das passagens do filme, Forest está em um barco de pesca de camarão, junto com seu companheiro de guerra, o Tenente Dan. O Tenente Dan tinha sido um comandante. Ele tinha nascido de várias gerações de comandantes e heróis de guerra, que haviam morrido em combate no passado.
Seu sonho era, como seus ancestrais, morrer no combate como herói, mas ele acabara sendo ferido na guerra e salvo por Forest. Porém, terminou em uma cadeira de rodas, bi-amputado, e com uma vida totalmente amargurada e sem sentido.
Ele, agora, vai ao encontro de Forest, que prometera a um grande amigo seu, morto na guerra, começar uma empresa de pesca de camarão. Tenente Dan também havia prometido que, se algum dia um idiota como Forest se tornasse comandante de um barco de pesca, ele viria para ser seu ajudante.
O negócio, porém, ia muito mal. Eles não estavam pescando nada. Forest vai aos domingos à igreja orar para que Deus mandasse camarões. “Onde esta esse seu Deus?”, Tenente Dan – incrédulo – zombava.
E é ai que uma coisa excepcional acontece… Deus resolveu comparecer…
Eles estavam no barco em meio a uma terrível tempestade. Tenente Dan fica totalmente enfurecido e começa a gritar contra Deus, como se eles estivessem lutando.
Algumas pessoas já haviam lhe pregado a Palavra, mas ele estava seriamente revoltado contra Deus.
Mais do que suas pernas, ele tinha tido seus sonhos amputados, e se sentia ridículo, abandonado e esquecido.
As pessoas que lhe haviam pregado a palavra, apesar de certamente bem intencionadas, o faziam com o discurso repetitivo, burocrático e insensível da religião. “Se você crer em Deus hoje, vai poder andar até seu trono, em ruas de ouro”.
Andar??? Ele se sentia totalmente insultado por esse Deus que pedia que ele andasse, mesmo tendo-lhe tirado as pernas.
Mas aí, em meio à assustadora tempestade, ele decidira tirar satisfações com o próprio Deus. Ele estava totalmente enfurecido, bradando desafios contra Deus.
As pessoas o haviam mostrado um Deus que trajava paletó e tinha uma Bíblia sob o braço, mas não o Deus que era poder, tempestade, raio, trovão.
Um Deus que, certamente, com um único raio, teria o poder de lhe tirar a vida ali, naquele barco, naquela tempestade.
Mas esse Deus não tomou a ofensa pessoal. Ele penetrou mais fundo do que aquelas palavras duras demonstravam na “superfície”. Ele é um Deus que pode enxergar que, ali, por trás de um coração em meio a uma tempestade, por trás das ofensas e desafios, havia um coração que, na verdade, clamava por Deus.
Um coração que havia perdido a dignidade e a esperança.
Apesar de ser só um filme, é possível crer que Deus assim age na vida real, pois “ao coração contrito, Ele não despreza jamais”.
Deus não pode se achegar aos indiferentes, aos que não tem nada em seu coração. Mas um coração ferido, ainda que louco, Deus não ignora.
A tempestade passa e vem a calmaria, a brisa suave, e, pela manhã, o semblante do Tenante Dan – e a completa mudança de perspectiva dele em relação à vida – mostra que ele, na verdade, já não era mais o mesmo. Ele havia feito as pazes com Deus naquela tempestade.
É engraçado como essa mensagem, apesar de não ser extraída da Bíblia, é uma mensagem totalmente bíblica.
Algumas pessoas talvez não prestem a devida atenção a essa cena, pois a sutileza com que o autor a desenvolve é tão simples, tão sublime, e é isso que a torna tão especial. Há um grande conhecimento de Deus nesta pequena cena, talvez mais do que há em muitas pregações por aí…
Dá pra lembrar de Jesus em meio à tempestade, acalmando o coração dos discípulos. “Eu estou no barco”. Dá pra lembrar de Jesus chamando Pedro para fora, para andar sobre as ondas, e segurando sua mão quando ele afundava no mar de suas dúvidas e de sua “pequena fé”.
Sim, esse é o Deus que vem ao nosso encontro nas nossas tempestades (e são tantas durante a nossa vida).
Ele é o Deus que nos chama para o desconhecido. Ele nos quer atravessando, transcendendo, o mar, no lugar em que nossos pés podem falhar.
Será que eu estou pronto para segurar a Sua mão?