“Porque a finalidade da Lei é Cristo, para a justificação de todo aquele que crê” (Romanos 10:4)
A resposta a essa pergunta tem, durante séculos, sido motivo de muita contradição. Sem medo de errar, diria que este é o maior fracasso teológico do Cristianismo.
Quase todos os grupos da cristandade embora ensinem a graça no discurso, ou não sabem o que fazem com a Lei, ou criam sua própria versão da lei (“não pode cortar cabelo”, “tem que usar saião”, etc.) ou apegam-se a “pedaços” dela, criando uma “auto-ilusão” de obediência à Lei. Então, uns ensinam o Sábado dali, outros dizem que o domingo “revogou” o sábado, outros pregam o dízimo como uma “obrigação legal”, etc…
É comum ver grupos que não “guardam” a Lei de Moisés usar os “rigores” da Lei para por sob o julgo de maldição grupos “indesejáveis”, como homossexuais e pessoas que usam tatuagens, piercings, etc. Tudo isso enquanto comem uma bela feijoada ou fazem a barba – fazendo “uso”, assim, de Levítico 18:22 e 19:28, enquanto ignoram Levítico 11:7 e 19:27.
Todos, ou pelo menos quase todos, fingem acreditar na “graça”. Porém, “por via das dúvidas”, pegam a sua partezinha da Lei (pois todos, no fundo, têm medo de ser vistos como “foras da lei”- quer coisa pior do que isso??).
Assim, o cristianismo passou a ter uma leitura totalmente racional (carnal?) e “legalista” da Bíblia. Como se ela pudesse ser “interpretada” em artigos, parágrafos e alíneas. Como se ela fosse propriamente uma legislação, e não um testemunho de fé recebido por homens de épocas diferentes, em lugares diferentes, cada qual com sua medida de revelação da verdade, sob uma diferente perspectiva, um diferente olhar.
Por isso “enxergamos” tantas contradições, e nos valemos de tantos “métodos de interpretação da Bíblia”. Tornamo-nos, assim, “advogados” e “juízes” de nós próprios. É por isso que também temos tantas placas e denominações.
Se todos praticassem o amor, não haveria motivo para tantas divisões.
Alguém já viu o amor ser católico, calvinista, batista, pentecostal ou adventista? É claro que não, pois não há divisões no amor.
Não há amor de esquerda, centro-esquerda ou liberal. No amor, tudo se faz pleno. Tudo se faz um.
E é exatamente esta a verdadeira essência da diferença entre a pregação (incompleta) da Lei de Moisés, e da mensagem (plena) da Graça em Jesus Cristo.
O que foi a Lei de Moisés? Foi uma instrução religiosa, moral e espiritual doada por Deus, com a finalidade de separar um povo específico (Israel) dentre todas as outras nações.
A respeito dela sabemos que: foi criada para trazer separação (entre Israel e os outros povos). Exigia obediência incondicional. Punia com a morte (maldição) aqueles que não se enquadravam. Não “melhorava” o homem (não tinha poder pra isso, pois se tivesse, não haveria um só transgressor). Estava escrita em tábuas de pedra (inflexível, imutável). Sua atuação sobre o homem se dava de fora pra dentro (exigia esforço, disciplina). Privilegiava aqueles que eram melhores educados moralmente e intelectualmente, em detrimento daqueles que não tinham uma boa “genealogia”.
Mas a Graça de Deus, ah, a Graça de Deus….
Na graça de Deus, não há rigor, a não ser no amor e no perdão (pois fomos amados e perdoados primeiro). Na graça de Deus não há condenação, há transformação. Na graça de Deus não há inflexibilidade, pois o supérfluo pode (e deve) ser deixado de lado, para que o essencial não se perca.
A graça de Deus parece com uma semente que começa pequenininha, no solo do coração (não está mais cravada na pedra, mas plantada no coração). Quando ela germina dá galhos e frutos, e eles protegem e alimentam muita gente (na graça não fracos e fortes, mas os fortes protegendo os fracos).
A Graça se parece menos com uma linha divisória no chão (ou você está “dentro” ou “fora”). Ela se parece mais com Deus apagando esta “linha” e convidando todo mundo pra dentro (até quem a gente não queria que estivesse lá).
Pensem na parábola do filho pródigo. Quem estava fora e quem estava dentro? Porém, quem estava “dentro” (da casa do Pai), embora nunca tivesse saído, na verdade estava mais por “fora” do que quem estava “voltando”. Pois do contrário, teria entendido a glória do reencontro do filho com pai, mas preferiu ficar ocupado com “julgamentos”, em vez de gozar da festa.
A idéia não é de revogação (pois revogação implica estabelecer uma lei para revogar a antiga). A idéia é de renovação. Uma nova ética, uma nova forma de olhar – o olhar de Jesus – para Deus, para a Bíblia, para nós mesmos, para o próximo, para a vida…
Só quem não entendeu isso pensa que a graça é “liberou geral”. E quem não entendeu isso, infelizmente, não entendeu nada.
Tomara que este não seja o seu caso.