Naquela noite, o rei não conseguia dormir e, então mandou aos empregados que lhe lessem as crônicas reais.
Achou-se escrito que, certa ocasião, um homem por nome Mordecai desfizera uma conspiração de altos funcionários que tramavam tomar-lhe o reino, dando cabo de sua própria vida.
Mas, e que teria sido feito daquele que, com lealdade, salvara a vida do rei? Que honras se lhe teriam dado? Ainda mais perturbado e insone, o rei caminhava por seu quarto, procurando, em vão, lembrar-se do que havia feito para retribuir um ato de tamanha virtude e heroísmo, sem o qual a sua vida – e tudo o quanto mais lhe era mais precioso – estariam simplesmente arruinados.
A triste realidade com a qual o rei teve de confrontar-se é que aquele gesto tão valioso em favor de sua vida ficara relegado a apenas algumas linhas, nas páginas amareladas do esquecimento.
Este pequeno relato, extraído do livro bíblico de Ester, nos leva a refletir sobre a natureza humana e sua incrível dificuldade de praticar uma virtude tão rara e por isso tão preciosa: a gratidão.
A ingratidão humana em números “frios” (como, aliás, a ingratidão costuma ser…): 400 anos de dura servidão no Egito, e os israelitas libertos e cheios de júbilo não puderam “suportar” nem ao menos o primeiro dia de sede no deserto…
10 leprosos curados, mas apenas um sarado aos pés de Jesus…
A gratidão é – ou pelo menos deveria ser – a palavra chave em nosso relacionamento com o próximo e com Deus.
Afinal, “Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome”. Salmos 100:4 …”
Acontece que a maioria de nós acaba fazendo tudo ao contrário: passamos a vida a escrever as nossas “crônicas reais”, repletas de atos de “justiça e bondade” que, supostamente, teríamos feito em favor dos outros. Daí, saímos por aí exigindo das pessoas uma dívida de gratidão para conosco. Como se fôssemos dignos…
Mas, a grande verdade – que por ser Verdade (e não somente verdade), também liberta – é que nós não somos “credores” de uma dívida qualquer que se pode pagar, mas, sim, devedores de um amor sem preço para com Deus, que nos amou e entregou Seu Filho para nos salvar, mesmo nós ainda sendo pecadores.
E, posto que a gratidão é a resposta a um gesto de bondade e misericórdia em nosso favor, deveríamos expressar um sentimento de amor e gratidão a todos: a Deus, primeiramente, por seu Infinito amor – mas também aos homens, amados por Deus, por ser esta a única forma de gratidão aceita como “aroma suave” nos céus.
Em nome Daquele que, por sua Graça, nos torna cada vez mais gratos e repletos de gratidão,
Comunidade Moriah